Procure falar o que não vem à cabeça. Cantarolar uma música
ainda sem letra. Deixe varrerem seus pés, case sem namorar, namore sem casar.
Seja imprudente porque, quando se anda em linha reta, não há histórias para
contar. Leve uma árvore para passear. Chore nos filmes babacas, durma nos
filmes sérios. Não espere as segundas intenções para chegar às primeiras. Não
diga “eu sei, eu sei”, quando nem ouviu direito. Almoce sozinho para sentir
saudades do que não foi servido em sua vida. Ligue sem motivo para o amigo,
leia o livro sem procurar coerência, ame sem pedir contrato, esqueça de ser o que
os outros esperam para ser os outros em você. Transforme o sapato em um barco,
ponha-o na água com a sua foto dentro. Não arrume a casa na segunda-feira. Não
sofra com o fim do domingo. Alterne a respiração com um beijo. Volte tarde.
Dispense o casaco para se gripar. Solte palavrão para valorizar depois cada
palavra de afeto. Complique o que é muito simples. Conte uma piada sem rir
antes. Não chore para chantagear. Cometa bobagens. Ninguém lembra do que foi
normal. Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer.
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