E, no meio de tantas mudanças,
muitas rupturas. Algumas coisas foram encaminhadas pro novo destino, outras se
perderam irremediavelmente. O que sobrou posso contar nos dedos, antes eu mal
conseguia fechar as gavetas_ tão abarrotadas de coisas, pessoas, lembranças.
Mas o que houve afinal, além de um processo íntimo, pessoal, intransferível?
Uma mudança externa também, porque há sempre um desconforto em quem se acostuma
com o nosso comportamento mais antigo. E além de lidar com o luto da morte do
que éramos, ainda o estranhamento dos que não aceitam o que nos tornamos.
Porque mudam os gostos, a disposição e os planos. E alguns reagem como se você
os tivesse abandonado no meio de uma viagem a dois por outro continente, quando
só você sabia falar a língua local mesmo que os impedisse de aprender o idioma
.E, no meio de tantas mudanças, algumas desavenças. Só porque aqueles mesmos
não entendem, não entendem, não entendem, porque não querem aceitar, que tudo é
tão dinâmico e que nem deve ter sido tão brusca essa mudança, mas que a coisa
maturou durante um tempo em que só queriam que você se envolvesse numa história
DELES, que se misturasse nas emoções DELES, que traduzisse o mais íntimo DELES.
E, ao mesmo tempo, você estava amadurecendo uma mudança sua e a coisa toda
doía, doía. Mas eles não perceberam. Porque a demanda sobre a vaidade deles era
grande demais, importante demais, imprescindível demais pra sua poesia.
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