Ontem eu abracei alguém e por um momento senti
novamente o arrepio que só o calor do teu corpo conseguia arrancar de mim. A
sensação era boa, mas a lembrança era péssima. Pensar em você na maior parte
dos meus inúteis segundos que logo viram minutos e se multiplicam muito
rapidamente transformando-se em horas, é como estar numa divisão entre raiva,
tristeza e felicidade. Raiva por ser tão fraco e não conseguir excluir você de
vez da minha mente. Tristeza por ter que tentar fazer isso contra a minha
vontade. E felicidade por sorrir lembrando-me das poucas coisas boas que
vivemos e que eu insisto em tentar reproduzir em cada rosto, cada sorriso, cada
história que eu ouço e sinto vontade de te contar, cada música que eu tento me
encaixar pensando em ti e em cada tudo que me rodeia.Mas ontem, naquele momento
daquele abraço que aquele alguém me deu, eu parei no tempo e fiz questão de
lembrar não só da sensação boa que sentia quando você me abraçava daquele
jeito, mas também te todas as coisas ruins que você me fizera passar nos
últimos meses. E então ali, naquele momento ganhei um estimulo para colocar um
fim no “quem sabe” que me perseguia. No “quase” que me torturava por me manter
em cima desse muro sem coluna. No “talvez” que insistia em me dar falsas
esperanças. E no “eu tentei” que me enchia de raiva por não segurar a minha
onda. Quem sabe isso é só uma fase? Eu quase liguei pra ela. Eu quase não amo
mais ela. Eu quase não sinto ciúmes. Eu quase nem lembro mais. Talvez ela só
precise de um tempo. Talvez ela só queira que eu corra atrás. Talvez ela só
queira que eu dê mais valor. Quem sabe a gente não volta? Eu quase bati na
porta dela ontem. Talvez ela abrisse se eu tivesse ido. Quem sabe. Eu quase.
Talvez. CHEGA! Chega desse ciclo de corridas sem sair do lugar. Chega de
ilusão. Chega de sofrer em vão. Há amigos me esperando para uma noitada. Há
outras mulheres nesse gigante que chamamos de mundo. Há mais diversão. Tem um
sorriso imenso escondido aqui dentro morrendo de vontade de ser aberto. Há uma
vontade gigante de querer voar sem depender de uma asa que já foi cortada há
muito tempo. E hoje quando acordei, pela primeira vez em meses não corri para o
celular para checar as mensagens na esperança de alguma resposta dela. Acordei
sem reclamar do sol que batia no meu rosto. Sem aquele fardo de tristeza que
pesava sobre o meu ombro. Hoje eu sorri inúmeras vezes na mesa do café, voltei
a ler o jornal e até a Dona Ana – nossa empregada - foi presenteada com um
beijo no rosto. O mundo gira. O tempo corre. E tudo passa. Então chegou a hora
de deixar esse caminhão de dias cinza partir e dar espaço para uma Ferrari de
felicidade estacionar. É hora de um novo recomeço. "
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